quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ARTIGO
De Canudos à Fazenda Southall: Crônicas de Mortes Anunciadas

por Diorge Konrad
Professor Adjunto Departamento História UFSM


“O adversário tem, daquela hora em diante, visando-o pelo cano da espingarda, um ódio inextinguível, oculto no sombreado das tocaias...”
“Pelas frinchas das paredes estourava de minuto em minuto um tiro de espingarda. (...) foram de cobardia feroz” (Euclides da Cunha, em Os sertões) **


Em 1909, quando Euclides da Cunha se foi, já havia sido um enorme sucesso em vida, ganhando a imortalidade na Academia Brasileira de Letras e um lugar no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Seu livro Os sertões, lançado sete anos antes, apesar do conservadorismo positivista, se transformou em um marco do pensamento social brasileiro, expressão original das contradições históricas de nosso País e da luta pela terra, heranças de um passado escravista e latifundiário. Cem anos depois da morte de Euclides, a luta e as mortes retratadas em sua obra continuam. No coração do latifúndio gaúcho, em São Gabriel, foi assassinado mais um sem-terra: Elton Brum da Silva.
Em Canudos, se falava de um movimento reacionário, messiânico, anti-republicano. Contra os miseráveis, liderados por Antônio Conselheiro, uma República da lei e da ordem que não aceitava a existência da questão social, tratando-a como caso de polícia.

Para a solução do conflito agrário, resultado do abandono político de milhares de sertanejos despossuídos, a repressão armada a serviço das classes dominantes, regionais ou nacionais.

Euclides da Cunha desvelou não apenas Canudos, mas o Brasil da miséria e da exploração. Contraditoriamente, formado na mesma ideologia política dos que massacraram Canudos, sua pena ajudou a compreender parte de um País e de uma classe dirigente que não dá os anéis, nem teme perder os dedos.

Em dois anos, de 1896 a 1897, parte do sertão da Bahia foi marcado por um movimento social e de religiosidade popular que a visão eurocêntrica dos senhores não podia conceber e entender. A grave crise econômica oriunda da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, com a opção elitista pela força de trabalho branca e imigrante, restou mais grave para as regiões de latifúndio. Somado com as fases de seca, o desemprego no campo levou os sertanejos para a esperança do Arraial de Canudos, reunindo milhares de famélicos, mas esperançosos trabalhadores do campo.

Uma condição social temerosa para os grandes fazendeiros, para setores da Igreja Católica, enfim, para a oligarquia republicana. A solução do ?problema? se deu pelas expedições militares, três delas derrotadas, que passaram a determinar o destino de Canudos. Milhares de sertanejos mortos, mais um quarto deste total de militares, além do incêndio dos mais dos cinco mil casebres da localidade.

No Rio Grande do Sul, mais de um século depois do Canudos, tão bem retratado por Euclides da Cunha, temos uma tardia e teimosa ofensiva neoliberal, quase extemporânea diante da grave crise da política econômica hegemonizada pelo capital financeiro. No governo de Yeda Crusius, marcado pela criminalização dos movimentos sociais, para o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e o adiamento da solução da questão agrária no estado, bem como para outras reivindicações, a lei e a ordem, a repressão tem sido a marca para a solução dos conflitos.

Como já disse no artigo ?Novo jeito de governar privado, corrupto e repressor?, publicado aqui, em 25 de junho de 2008, no governo de Yeda Crusius, iniciado em 2007, o novo jeito de governar, plataforma de campanha, começou a mostrar a sua velha face neoliberal logo em seu início: a forma foi a venda de ações do Banrisul, através do processo de privatização travestido de capitalização, além da opção pelo chamado déficit zero, uma aberta política de não-investimento social. Porém, não bastava somente a privatização do Estado. Este processo veio acompanhado de corrupção e repressão.

No primeiro caso, quase dois anos depois da Operação Rodin, iniciada em novembro de 2007, as denúncias iniciais do Ministério Público e da Polícia Federal, as quais demonstraram as articulações entre as Fundações Privadas de Apoio (Fatec e Fundae), ligadas a Universidade Federal de Santa Maria, empresas sistemistas e a direção do Detran-RS, num super-esquema de desvio de recursos públicos que envolveria em torno de 44 milhões de reais, transformaram a governadora em ré em uma ação de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal. A ação contra ela e mais oito importantes nomes da política gaúcha, entre assessores e deputados da base aliada, fez a crise política definitivamente bater as portas do Rio Grande do Sul e do modo tucano de governar. Mesmo que a grande mídia nacional faça blindagem deste processo, sem relacioná-lo com o projeto das classes dominantes para 2010.

Como resultado, depois da CPI do DETRAN, desenvolvida em 2008, nova Comissão Parlamentar de Inquérito está tendo início na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de averiguar o governo do PSDB-DEM.

Pois, foi nesta quadra de uma corrupta política neoliberal que a face para quem protesta e reivindica ganhou seu capítulo mais recente.

Diante das denúncias de corrupção e a crise instalada no centro do governo do Rio Grande do Sul, o movimento social gaúcho voltou às ruas, retomando as manifestações públicas, exigindo o Fora Yeda. Estudantes, sindicalistas, Via Campesina, MST, Movimento de Luta pela Moradia e partidos políticos de oposição, entre outros movimentos, resolveram enfrentar a opção governamental. Tendo atrás de si o velho discurso da manutenção da lei e da ordem, as classes dominantes gaúchas e seu governo, chegaram a colocar Paulo Roberto Mendes no comando da Brigada Militar, numa clara demonstração da opção pelo confronto.

Depois de alguns meses de intensa repressão, o coronel foi promovido para a Justiça Militar do Rio Grande do Sul, enquanto a mudança formal não mudou a linha política de militarização na solução das questões sociais.

O clima político repressivo no Rio Grande do Sul tem na Farsul, entidade que representa os proprietários e grandes latifundiários gaúchos, base do apoio social ao governo de Yeda Crusius, um dos seus principais representantes.

Ainda em 2003, durante o Governo Germano Rigotto, ao qual também a Farsul deu sustentação política, a marcha do MST em direção a São Gabriel se tornou uma marca dos conflitos agrários recentes na formação social do estado. Os fazendeiros chegaram instrumentalizar seus peões em cavalgadas intiidatórias, fazendo de tudo para que os Sem Terra não chegassem até a Fazenda Southall, desapropriada como improdutiva para fins de reforma agrária.

Nas cidades vizinhas, enquanto as famílias rumavam para aquela cidade da fronteira Oeste, erguiam-se barreiras de camionetas importadas a fim de impedir que se chegasse a São Gabriel. Proprietários rurais e o prefeito da cidade, Rossano Gonçalves,[1] se colocaram ideologicamente contra a desapropriação da Fazenda, após a publicação de decreto do governo federal que a declarou de utilidade pública para fins de reforma agrária, numa área de 13 mil hectares.

O Poder Judiciário estadual chegou a paralisar a marcha, enquanto os reacionários gabrielenses lançaram manifestos apócrifos contra os miseráveis e deserdados da terra. Num deles, chamado ?Exterminar os ratos do MST?, o bisonho texto demonstrava o ódio de classe dos herdeiros atuais dos que justificaram os massacres de Canudos, na Bahia, de Contestado, entre Santa Catarina e Paraná, do Fundão, no Rio Grande do Sul e de Eldorado dos Carajás, no Pará. Vejamos:

?Povo de São Gabriel, não permita que sua cidade, tão bem conservada nesses anos todos, seja agora maculada pelos pés deformados e sujos da escória humana. São Gabriel, que nunca conviveu com a miséria, terá agora que abrigar o que de pior existe no seio da sociedade. Nós não merecemos que essa massa podre, manipulada por meia dúzia de covardes que se escondem atrás de estrelinhas no peito, venham trazer o roubo, a violência, o estupro, a morte. Esses ratos precisam ser exterminados. Vai doer, mas para grandes doenças, fortes são os remédios. É preciso correr sangue para mostrarmos nossa bravura. Se queres a paz, prepara a guerra. Só assim daremos exemplo ao mundo que em São Gabriel não há lugar para desocupados. Aqui é lugar de povo ordeiro, trabalhador e produtivo. Nossa cidade é terra de oportunidades para quem quer produzir e não oportunidades para bêbados, ralé, vagabundos e mendigos de aluguel. Se tu, gabrielense amigo, fores procurado por um faminto rato do MST, dê-lhe um prato de comida, com três colheres cheias de qualquer veneno para rato. Se possui um avião agrícola, pulveriza à noite 100 litros de gasolina em vôo rasante sobre o acampamento de lona dos ratos. Sempre terá uma vela acesa para terminar o serviço e liquidar com todos eles. Se és proprietário de terras ao lado do acampamento, usa qualquer remédio de banhar gado na água que eles utilizam para beber. Rato envenenado bebe mais água ainda. Se possui uma arma de caça calibre 22, atira de dentro do carro contra o acampamento, o mais longe possível. A bala atinge o alvo mesmo há 1200 metros de distância?.[2]

No entanto, as ameaças de repressão e as ações judiciais não foram suficientes para que os Sem Terra desistissem da Fazenda Southall. Em 2008, à Estância do Céu, uma área de 5 mil hectares, parte da área, foi desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), possibilitando abrigar dezenas de famílias.

Por outro lado, a ameaça do sangue e da guerra, mantida pelos fazendeiros e pela Farsul que, não por coincidência, tem como vice-presidente Tarso Teixeira, presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, ganhou orientação política pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do novo governo estadual, a partir de janeiro de 2007.

Também não foi coincidência a audiência pública, em 27 de Janeiro de 2009, que reuniu a SSP, lideranças rurais de cidade, o Ministério Público e segmentos da segurança de municípios região, em evento ocorrido justamente no Sindicato Rural de São Gabriel. Na ocasião, o secretário estadual da Segurança Pública, Edson Goularte,[3] disse que o tema segurança no campo era prioridade do estado, afirmando que a Brigada Militar e a Polícia Civil estavam permanentemente mobilizados e motivados para os enfrentamentos da questão. Goularte, entre outras declarações, disse que o parâmetro de atuação seria ?sempre a lei?, pois a secretaria sabia o que a sociedade queria.

Na ocasião, o secretário enfatizou que ?a reunião de trabalho em São Gabriel representou mais um passo decisivo na construção de ações integradas entre a Pasta, prefeituras e entidades rurais para qualificar os trabalhos já desenvolvidos no combate a violência no campo?. Ressaltou ainda que a Segurança estava ?agregando ao seu planejamento estratégico e operacional? a parceria de outras secretarias ? mais Farsul e a Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), visando partilhar informações que fortalecessem, mobilizassem e dessem continuidade aos ?processos de fiscalização, prevenção e segurança?. Lembrou, ainda, que o tema vinha sendo debatido pela SSP e a Farsul desde agosto de 2008, sendo que o Governo vinha dando ?constantes demonstrações de firmeza em ações de reintegração de posse, amparado pela Justiça na manutenção do respeito para com a lei e a ordem pública?.

No encontro, o proponente da audiência, Tarso Teixeira, disse que o encontro demonstrava que o Executivo estadual não media esforços na busca de ?resoluções para aumentar a segurança no meio rural?. Demonstrou a preocupação com a chegada ao município de 1.544 famílias, ou quase 10 mil pessoas, a ser assentadas em áreas recentemente adquiridas pelo INCRA. Observou que esse panorama poderia ?gerar uma espécie de favelização rural, visto a União não ter se preocupado com as variáveis de segurança, saúde, emprego, educação e impacto ambiental em São Gabriel e região quando da aquisição das terras?. Assim, para enfrentar a ?nova realidade?, o líder ruralista reivindicou o ?fortalecimento da Brigada Militar e Polícia Civil na cidade, com reforço nos efetivos e na infra-estrutura das instituições?, sem deixar de afirmar que a cidade era berço do ?Maio Verde?, uma ?espinha na garganta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra?. Sua afirmação final foi uma das mais cabais demonstrações de confiança no Governo de Yeda Crusius: ?sabemos que o Governo do Estado e a Secretaria da Segurança estão conosco?.[4]

Edson Goularte (de pé) com Tarso Teixeira (camisa azul)
e lideranças de São Gabriel e região

Foto: Amilton Belmonte/ASCOM SSP

Pois a promessa de combate à violência no campo não tardou para encontrar a sua face em São Gabriel. Na manhã de sexta-feira, 21 de agosto de 2009, após ações violentas que retiraram sem-terras da sede da prefeitura e para cumprir o mandado de reintegração de posse da ocupação da Fazenda Southall, a morte anunciada se confirmou.

O covarde assassinato do trabalhador rural sem terra Elton Brum da Silva,[5] vitimado com um tiro pelas costas de uma espingarda calibre 12, durante a desocupação pela Brigada Militar, mostrou a face do acordo entre os ruralistas de São Gabriel e o governo de Yeda Crusius. São eles os responsáveis por mais este assassinato cometido pelas classes dominantes brasileiras. É a eles que os trabalhadores brasileiros devem imputar a responsabilidade da morte de Elton. Não apenas ao comandante da operação ou ao policial militar que efetivou o disparo,[6] como querem seus superiores e os setores da mídia que tem incitado a condenação da luta pela terra no Rio Grande do Sul.

Foto de Elton, assassinado pela Brigada Militar comandada
por Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul [7]


Como já foi dito na nota pública que o MST lançou sobre o assassinato de Elton Brum, ?o uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força?.[8]

Para terminar esta crônica, diante da indignação dos lutadores pela terra e por outro Brasil, parafraseando Euclides da Cunha, voltemos a Elton Brum, assassinado no ano do centenário da morte do grande escritor fluminense: ?a repressão legal o atingiu (...) imerso de todo no sonho de onde não mais despertaria?. Depois disso, após o passeio pelo Arraial de Canudos arrasado, Cunha ainda escreveria: ?e o silêncio descia de novo, reinando outra vez o mesmo silêncio formidável: soldados mudos e imóveis, acaroados com a borda da tapada sinistra, espectantes, na tocaia; ou, ao fundo, em roda dos brasidos, reatando as merendas ligeiras, que tinham, às vezes, uns trágicos convivas - os moradores assassinados, estirados pelos recantos...?.[9]

Notas

** ver CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 39 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves/Publifolha, p. 104 e 132. Coleção Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro.

[1] Rossano Gonçalves, ex-deputado estadual pelo PDT, atualmente é prefeito de São Gabriel.

[2] Grifos nossos.

[3] Edson Goularte estava acompanhado do comandante-geral da Brigada Militar, coronel João Carlos Trindade Lopes, do ouvidor da Segurança, Adão Paiani, do delegado regional da Polícia Civil, Sezefredo Lopes, e do diretor do Departamento de Gestão da Estratégia Operacional da SSP, tenente-coronel Marco Antônio Moura dos Santos,

[4] Grifos nossos. As declarações acima se encontram no próprio portal da SSP do Rio Grande do Sul. Disponível em http://www.ssp.rs.gov.br/portal/principal.php?action=imp_noticias&cod_noticia=12554. Acesso em 24 ago. 2009.

[5] Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu,

[6] O comandante da operação foi o coronel Lauro Binsfield, cujo histórico inclui outras ações de violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.

[7] Foto no blog RS Urgente, de Marcos Weissheimer. Disponível em http://rsurgente.opsblog.org/2009/08/21/fotos-mostram-que-elton-foi-morto-pelas-costas/. Acesso em 24 out. 2009.

[8] Ver a integra da nota no Portal do MST. Disponível em http://www.mst.org.br/node/7977. Acesso em 24 ago. 2009.

[9] Ver CUNHA, Euclides da, op. cit., p. 139 e 493.

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ARTIGO
Um Tiro, Muitos Gatilhos

por Ayrton Centeno
Levante Popular da Juventude (25/08/09


Outros tiros continuam viajando para encontrar suas presas. E muitos outros irão se juntar a eles. Aquele que se refestelou na carne e no sangue de Élton, 44 anos, dois filhos, deixou de viajar. Nas redações, muitas mãos têm resíduos de pólvora.

O tiro que partiu da boca da espingarda 12 rumo ao corpo do sem terra Élton Brum da Silva foi disparado muito antes da manhã triste de inverno no coração da Campanha gaúcha. A bala começou a voar em tempos pretéritos, antes até do também triste governo de Yeda Crusius ser inaugurado com a governadora desfraldando invertida a bandeira do Rio Grande do Sul na sacada do Palácio Piratini. E o lema estampado no brasão “Liberdade, Igualdade, Humanidade”, que vai beber na fonte da Revolução Francesa e dos direitos fundamentais do homem, ficou de cabeça para baixo. Era um mau presságio.

O tiro com sua bala vem viajando, na verdade, desde décadas mas apressou-se nos últimos anos. Seu apetite tornou-se mais urgente. A nomeação de um militar com o perfil psicológico do coronel Paulo Roberto Mendes para o comando da Brigada Militar garantiu-lhe um impulso extra. Esta figura extemporânea aportou no governo - curiosamente de um partido que se diz social e democrata - um duplo ódio às manifestações da sociedade na democracia. Tudo bem, as palavras são, com freqüência, um biombo atrás do qual se perpetram os crimes mais hediondos contra o seu sentido original e a social-democracia em questão é somente uma alegoria no nosso carnaval político, a comissão de frente da direita no Brasil. Mas, convenhamos, seria uma demonstração de elegância protocolar que, ao menos, as aparências fossem mantidas. Nada disso. Sob a égide do PSDB, a bala passou a voar mais celeremente em busca do seu alimento.


O tiro aligeirou-se mas ainda zanzava a procura de seu alvo. Durante seu reinado, Mendes, o Bravo, destruiu acampamentos e seus soldados não menos bravamente despejaram terra nas panelas de comida que alimentariam homens, mulheres e crianças. Fez sangrar manifestantes, do campo e da cidade, até ser despachado para uma sinecura no Tribunal Militar do Estado, uma instituição fora de tempo e lugar, altamente merecedora do oficial de notável saber jurídico que passou a integrá-la.

O tiro que tanto espaço percorrera para saciar sua fome achou, enfim, seu repasto na dia 21 de agosto, ao se encontrar com Élton. Mendes partira mas outro coronel, Lauro Binsfield, ficou na linha de frente da repressão. Denunciado à Organização dos Estados Americanos (OEA) por violação dos direitos humanos, foi mantido, mesmo assim, à testa das operações de guerra da BM no campo.

O tiro, peculiarmente, não foi deflagrado por apenas uma arma. Ele cumpriu seu fado sinistro porque muitos dedos apertaram muitos gatilhos. É ilusório pensar que o disparo só pertence a quem apontou a espingarda para desferí-lo.

O tiro não surgiu necessariamente como tiro. Nasceu, por exemplo, do entendimento de que a questão social é um caso de polícia e assim tem que ser tratada. Nasceu de uma caneta correndo sua tinta sobre o decreto de uma nomeação.

O tiro também partiu dos microfones, dos teclados, dos teleprompters. Da voz do dono e dos aquários. Brotou de uma ação ou mesmo de uma omissão. Na mídia, são muitos os dedos e os gatilhos que foram apertados. Uma imprensa para a qual a democracia não fosse somente uma palavra-biombo questionaria, por exemplo, a entrega do bastão do aparelho repressor a alguém desprovido das mínimas condições para empunhá-lo. Em vez disso, o que se viu foi um constrangedor capachismo dedicado à criação de mitologias reacionárias para afagar os sentimentos mais mesquinhos da classe média. Mas há torpezas piores. O fuzilamento sumário do MST nas manchetes, matérias, fotos, editoriais, artigos construiu um rancor belicoso no imaginário social contra famílias que reivindicam um pedaço de terra. E ocultou que os países importantes do mundo realizaram sua reforma agrária ainda no século 19 ou nos meados do século passado, medida que as elites brasileiras, até recorrendo ao golpe como aconteceu em 1964, impediram desde sempre.

O tiro viajou como outros viajaram no passado. Um dos filmes mais odiosos jamais feitos, O Eterno Judeu, de Franz Hippler, estreou em 1940, em Berlim, perante uma platéia sofisticada: artistas, cientistas, damas da sociedade e a fina flor do partido nazista. Na montagem alternam-se as cenas dos judeus, mostrados como preguiçosos, sujos e indignos, com moscas numa parede. É preciso convencer as pessoas de que aquilo é uma praga e precisa ser exterminada – mais tarde, um pesticida, o Ziklon B, será empregado na solução final. A arte de Hippler prepara o holocausto. Alguém dirá: mas esta é uma comparação extremada, vivemos em uma democracia! Sim, é verdade, apesar do coronel Binsfield. Mas não se pretende aqui, supor equivalentes a época, as partes, o tamanho da violência. O interesse está no processo. Quando a intenção é destruir o adversário – e isto se faz de diversas formas, como ao superexpor seus erros e/ou sonegar suas virtudes, usando do poder devastador dos conglomerados de mídia — o modus operandi é similar., Se o objetivo final, conscientemente ou não, é negar a humanidade do outro, tudo é possível. Porque o outro, então, está fora da proteção do arcabouço jurídico. Não é gente. E o passo seguinte pode ser sua eliminação, física inclusive.

Outros tiros continuam viajando para encontrar suas presas. E muitos outros irão se juntar a eles. Aquele que se refestelou na carne e no sangue de Élton, 44 anos, dois filhos, deixou de viajar. Nas redações, muitas mãos têm resíduos de pólvora.

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sábado, 18 de julho de 2009

ARTIGO
A Linguagem como Palco da Luta de Classes

por Ivan Rodrigo Trevisan
Estudante de História UFSM


A linguagem, tão antiga quanto a consciência, é, conforme Marx:“ a expressão e o produto da consciência real, prática dos intercâmbios sociais, um fenômeno essencialmente histórico e social” (MARX). Portanto, espaço de disputa entre classes sociais antagônicas, onde a classe dominante, através da língua, tenta impor seus valores culturais e políticos, para melhor continuar explorando as classes inferiores. Muitas vezes considerada como “neutra” ou natural, e até mesmo, supra-histórica, tem se dado pouca atenção a língua, subestimando sua importância, tanto como instrumento de dominação das elites, como também um forte elemento de identidade e resistência cultural de um determinado grupo.

Durante o período colonial, para impor sua hegemonia, econômica e cultural sobre o Brasil, em 1758, os portugueses decretaram uma reforma administrativa, assinada pelo Marques de Pombal, que previa a proibição e conseqüente erradicação das línguas indígenas faladas no Brasil, impondo o português como a língua oficial dos habitantes, sob pena de repressão e punição para os que não se “adequassem” a nova ordem.

Mesmo com a censura lingüística, palavras e dialetos dos subalternos acabaram sendo incorporados á nova versão “culta” do português, obviamente, sem serem reconhecidas pelas elites dominantes. Por isso, hoje, muitas vezes, usamos palavras de origens nativas e africanas, sem termos consciência disso. Em grande parte das vezes, as palavras passavam a ter um sentido pejorativo.

Como por exemplo, a palavra “moleque”, que no dialeto africano, significava menino, hoje, no português, usa-se moleque para identificar um “menino de rua” ou um “menino travesso”. Outro exemplo de origem nativa, é a palavra “china”, que significava mulher, hoje é sinônimo de mulher, mas mulher prostituída.

Essa opção pelo português culto foi um divisor de águas entre a plebe ignara e as elites dominantes. A sacralização do “falar erudito”, e do “português correto”, pressupõe a sua restrição apenas as camadas superiores da sociedade, nunca a sua universalização. Ou seja: esse elitismo lingüístico era, e continua sendo, usado como forma de discriminação social, étnico e cultural. Tornou-se uma espécie de fronteira entre o “falar da casa grande”, e o “falar da senzala”.

“O processo de unificação, ou padronização, retira a língua de sua realidade social, complexa e dinâmica, para transformá-la num objeto externo aos falantes, numa entidade com "vida própria", (supostamente) independente dos seres humanos que a falam, escrevem, lêem e interagem por meio dela” (BAGNO).

Hoje, os responsáveis pela divulgação e sacralização do padrão culto, são os grandes meios transmissores de conhecimento, como a escola e os meios de
Comunicação de massa, quase sempre a serviço da burguesia nacional e internacional, como forma de impedir qualquer tipo de ascensão social das classes populares.

Tratando-se de um fenômeno político-social, percebe-se que a discriminação ou a aceitação de tais fonéticas, ultrapassam as razões lingüísticas, pois certos tipos de pronúncias, como “leitchi”, referindo-se ao falar carioca de “leite”, é bem visto e até considerado elegante, enquanto que “caro”, usado pelos colonos ao invés de “carro”, é descriminado e até mesmo motivo de deboche, pois é sinônimo de trabalhador rural.

Durante o século XX, foi hegemônica a visão dos lingüistas estruturalistas, que, apesar de afirmarem que a linguagem verbal se trata de um fenômeno social, colocavam a formação da linguagem humana, como se tratando de uma espécie de “consentimento coletivo”, deixando a língua essencialmente autônoma á pratica social, como se fosse um “ente neutro”, um espaço sem disputas. Ora, isso é negar especialmente o caráter dialético da linguagem, conseqüentemente, negar o papel da luta de classes no cotidiano da sociedade civil. Conforme o lingüista marxista Bakhtine: “a linguagem única não é dada, mas, posto como princípio e, em todos os momentos de sua vida, ela se opõem ao plurilinguismo”. Isso significa a negação, de forma autoritária, das diversidades culturais, característica elementar de um projeto social excludente, como o projeto de sociedade capitalista desenvolvido no Brasil. Ao estado cabe o papel de submeter os cidadãos “ás regras do jogo”, ditadas pela burguesia, que como classe, detém o monopólio do “falar e do escrever erudito”, estabelecendo formas de poder através da linguagem, quase sempre inacessíveis ao proletariado. Trata-se de entender, como a infra-estrutura determina a língua e, como a língua reflete e retrata a realidade e suas transformações. Prossegue Bakhtine: “As relações de produção e a estrutura sócio-política que delas diretamente deriva, determinam todos os contatos verbais possíveis entre os indivíduos, todas as formas e os meios de comunicação verbal, no trabalho, na vida, na política, na criação ideológica”.

Esse preconceito lingüístico ocorre, de maneira ainda mais forte e evidente, com indivíduos de camadas inferiores da sociedade que, de maneira isolada, ascendem socialmente. Sejam eles, escritores, políticos, jogadores de futebol, que, a partir do momento em que assumem uma posição de destaque social, passam a sofrer o preconceito de maneira “pedagógica”, para que as pessoas que falam e se expressam como ele, vejam e sintam-se envergonhadas de sua cultura e de suas origens. Trata-se de um preconceito nitidamente de classe. Em uma sociedade profundamente hierarquizada, tem como conseqüência uma hierarquização de seus valores culturais, como: “o que é certo e o que é errado”, ou “o que é bom e o que é ruim”. A língua talvez seja um dos elementos mais importantes nesse aspecto, pois trata-se de como os homens se comunicam, como refletem e expressam em palavras as suas relações sociais, marcadas por contradições e conflitos. Por isso a necessi
dade de acabar com a cultura do erro!

Prova concreta de que, a língua é palco privilegiado da luta de classes, é a maneira como os países imperialistas tentam, a todo custo, impor suas línguas aos países dominados, pois, parte do domínio econômico é fruto também da dominação cultural. Basta ver a invasão de palavras estrangeiras, ou melhor, inglesas no Brasil, como conseqüência principalmente devido á globalização de mercado, e a “norte americanização” do mundo, pois praticamente não se vê ninguém falando palavras turcas, árabes ou sul-africanas em território brasileiro.

Diferentemente do que pensavam alguns intelectuais da década de 30’, o pluralismo lingüístico não significa um empecilho á formação de uma unidade nacional. Pelo contrário, é através dessa diversidade cultural e de seu reconhecimento enquanto caráter de classe, que se constituem um dos principais elementos de transformação social. Conforme Maestri: “O reconhecimento do caráter de classe das línguas nacionais é imprescindível á proposta e a construção de práticas, políticas e legislação lingüísticas que expressem, nesse domínio, a luta dos trabalhadores pela hegemonia nacional, na perspectiva de superação das próprias fronteiras nacionais, imprescindível a emancipação dos trabalhadores, na atual etapa da história da humanidade”.

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Primeiro de Maio: Dia do Trabalho ou do Trabalhador?

por Henrique Cignachi
Estudante de História UFSM


Para alguns, apenas mais um feriado no ano, algo a atrapalhar os “negócios”. Para outros, um dia de caráter festivo, inclusive com direito a sorteios. Mas para outros, é um dia a ser lembrado de forma crítica, para a reivindicação-manutenção de direitos e para a luta por uma sociedade em que o trabalho seja dos próprios trabalhadores e trabalhadoras.

A fim de melhor entendermos a data, é necessário buscar sua historicidade. O 1º de maio deve ser entendido como resultado de um processo histórico de luta de classes iniciado a mais de dois séculos e de onde, desde então, é difícil esboçar uma “harmonização” ou negação desta sem que antes seja abolida a exploração do homem sobre o homem.

Na Europa, o progresso da Revolução Industrial criou também uma gigantesca massa de trabalhadores, os chamados “proletários” (que não possuem propriedade, apenas os filhos e a força de trabalho), derivados do êxodo rural forçado através das pressões econômicas e coerção direta dos Estados (o que não deixa de ser um fenômeno atual). Em todo o mundo, essa massa de trabalhadores começava a se tornar uma grande força que questionava a ordem social e econômica, ao qual estavam e continuam sendo subjugados através da expropriação de seu trabalho pelos proprietários da terra, da indústria e do comércio. Reunidos sob o lema “operários de todo o mundo, uni-vos!” e sob o corolário das idéias comunistas/socialistas/anarquistas, contrapunham-se à ordem instaurada pelo capitalismo. Esta peleja também foi uma constante no Brasil, principalmente na luta dos escravos contra senhores, na criação de sociedades autônomas – os quilombos - e na luta dos t rabalhadores assalariados a partir do início do século XX, através de greves e pela participação política na democracia representativa.

O primeiro de maio, enquanto data rememorativa tem origem em manifestações ocorridas nos Estados Unidos no final do século XIX. Em Chicago, no dia 1º de maio de 1886, os operários norte-americanos entraram em greve geral: “A partir de hoje nenhum operário deve trabalhar mais de oito horas diárias. Oito horas de trabalho! Oito horas de repouso! Oito horas de educação!” Vários operários são mortos na repressão policial que se seguiu (as greves eram consideradas ilegais) e cinco líderes condenados à morte por enforcamento. Nos anos seguintes, a classe se organiza anualmente para relembrar os mortos e prosseguir com a luta. A proposta é aprovada em Paris, no encontro da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1889 e, pelo seu êxito em congregar lutas, é aprovada a manutenção anual da data para a manifestação da classe trabalhadora internacionalmente.

No Brasil, a apropriação da data não deixou de ser diferente, mas logo foi subvertida em seu sentido original. No pós-1930, Vargas dá caráter oficial e recreativo a data, sempre decretando direitos trabalhistas e aumentos no dia, mas com o intento de agregar os trabalhadores de forma moderada ao nacionalismo e a fim de reprimir o movimento operário comunista/anarquista. Assim o 1º de maio passou a ser considerado “dia do trabalho”, e não do trabalhador que é quem realiza o trabalho e é quem mais sofre as conseqüências da não distribuição democrática e igualitária deste.

Cabe então realizarmos, principalmente os trabalhadores do campo e da cidade, a reflexão critica deste processo. Mesmo hoje com um ex-operário na presidência, as políticas públicas em relação aos trabalhadores continuam sendo ameaçadas, como nesta crise em que não há atitudes concretas para salvar os empregos, mas tão somente os lucros dos empresários, multinacionais e grandes financistas-banqueiros. Apenas a nossa luta e conscientização cotidiana, organizada em partidos e associações de classe contendo propostas revolucionárias, poderão nos levar a criar uma sociedade em que possamos estabelecer a regra máxima do “cada um segundo suas capacidades, cada um segundo suas necessidades”.

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Um Olhar sobre a Exclusão

por Rafael Wilhelm
Estudante de História UFSM


Durante a semana do último dia 20 de novembro assisti a alguns programas na TV sobre a comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra, e o que me chamou a atenção foi a forma como que as diferentes emissoras representaram aquela data. Houve uma diferença muito pequena entre as abordagens feitas por cada um dos programas.

Até aí tudo bem, não é mesmo? Todos têm o direito de pensar semelhante e dessa forma expressar coisas quase idênticas. O que me chamou a atenção, contudo, não foi o fato dessas emissoras abordarem o assunto sob perspectivas semelhantes, mas o conteúdo dessa semelhança.

Dias antes, motivado pelas discussões que tivemos em aula, perguntei a um dos meus colegas de apartamento se ele achava que os negros estariam reconquistando seu espaço na sociedade brasileira, o mesmo espaço que teria sido roubado de seus antepassados no momento em que foram introduzidos no Brasil sob condições desiguais. Ele me respondeu que sim, “os negros estão retomando seu espaço na sociedade brasileira”. Afirmou isso utilizando o argumento de que cada vez mais negros desempenham papéis importantes na tv, mais cantores negros estariam fazendo sucesso, vários dançarinos negros estariam se destacando, e tantos outros negros, adquirindo fama através do esporte. Ainda de acordo com esse meu amigo, a “mídia”, por mostrar freqüentemente essas “conquistas”, estaria fortalecendo ainda mais tal inclusão.

Vocês querem saber o que eu vi naqueles programas da semana do dia 20 de novembro? Basicamente aquilo que meu colega relatou: artistas, cantores, esportistas e dançarinos negros sendo destacados, por meio de eventos oficiais ou não, como símbolos da importância e da inserção do negro na sociedade brasileira.

Depois de assistir àquelas reportagens, me fiz a seguinte pergunta: A partir do quê tenho eu considerado ou afirmado a inserção da raça negra na sociedade brasileira? Pasmem: semelhante a do meu colega, também a minha resposta ficou pairando sobre o quê a tevê principalmente havia me apresenteado como símbolo dessa suposta reintegração negra, não apenas através daquelas reportagens sobre o Dia Nacional da Consciência Negra, mas por tantas outras, anteriores aquelas, que foram absorvidas por mim também sem a devida análise crítica.

É inevitável não atribuirmos à raça negra em geral, potencialidades inatas. Temos realmente uma infinidade de ótimos artistas negros, vários atletas negros com desempenho maravilhoso, cantores, dançarinos... mas até que ponto essas capacidades, e apenas elas, precisam ser reproduzidas como elementos principais de valorização e reintegração dos negros à sociedade brasileira?

A cultura, o esporte, a arte sem dúvida alguma são caminhos legítimos de integração, mas e quanto aos cidadãos negros desamparados ou despossuídos dessas atividades e/ou qualidades? O que será que o seu José, operário negro que não sabe cantar acha disso? Ou a dona Maria, doméstica negra que não sabe dançar pensa sobre isso? E o Joãozinho, menino negro que não tem habilidade com a bola de futebol?

Eu adoro fotografia, e é costume meu sempre analisar uma foto a partir daquilo que foi deixado de fora dela. E creio que, nestes casos, o que tem sido deixado de lado tem um peso muito grande, pois se refere ao cotidiano da maior parte dos cidadãos negros, daqueles que por vários motivos não aparecem nos noticiários semanais nem em matérias especiais, mas que sofrem dia-a-dia com os mais diversos e pesados tipos de discriminação.

Nesse processo de inclusão social dos grupos historicamente marginalizados praticado por uma parcela da mídia e reproduzido por nós, ainda persiste o medo de reconhecer e lidar com os silêncios que sustentam verdadeiramente essa condição: a discriminação racial pura, do olhar dissimulado, do não olhar, do riso, do escárnio, do deboche, do nojo... e suas variáveis: o desemprego, os baixos salários, o subemprego, a exclusão. Um medo que talvez reflita a nossa própria culpa, e a nossa omissão diante da possibilidade de punir aqueles que desrespeitam e maltratam o próximo marginalizando-o sob o olhar conivente de outros tantos, não menos culpados que aqueles.

Na tv, no rádio, no jornal e no dia-a-dia, somos ainda obrigados a conviver com o propagandeamento de uma inclusão racial negra travestida de promoção apenas cultural, e muitas vezes restrita ao exótico. Talvez um sinal de que ainda não nos acostumamos a perceber os negros como iguais, em todos os campos e profissões, apenas por sua condição de seres humanos.

Nos falta garantir efetivamente o que continua sendo direito básico e universal de todo indivíduo, seja ele branco, pardo, negro, pobre: a dignidade e a cidadania.

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